Você deve conhecer ou ter ouvido falar de alguém que já deslocou ou ”tirou“ o ombro do lugar… Isso trata-se de uma luxação. Apesar do termo as vezes ser banalizado (“foi só uma luxação”), quando ela ocorre existe uma perda da congruência articular, havendo a perda total do contato entre um osso e outro (no ombro o osso do braço ”desencaixa” da escápula), sendo considerada uma lesão muito grave do ponto de vista ortopédico, pois necessita que seja colocada o mais rápido possível no lugar pelas consequências que ela pode levar, além da dor que provoca!


O ombro por ser uma articulação relativamente mais instável quando comparada com outras, apresenta uma frequência maior de luxações. Isso ocorre porque a área de contato entre os ossos é pequena para permitir o amplo movimento da articulação do ombro. É a articulação do corpo com maior amplitude de movimento, mas com menor estabilidade! É muito difícil ouvir falar de alguém que luxou um quadril ou joelho, que ocorrem geralmente em acidentes de alta energia (quedas de alturas, acidentes de transito, etc…), enquanto o ombro pode luxar por uma queda ao solo apoiando todo o peso do corpo sobre o braço e até mesmo em alguns movimentos extremos, que levam a lesão das estruturas que estabilizam o ombro (capsula articular e ligamentos) provocando a luxação. Alguns indivíduos com uma hiperfrouxidão ligamentar podem apresentar uma luxação do ombro com pequenos traumatismos e sem necessariamente apresentar uma lesão ligamentar.

Quando ocorre uma luxação do ombro a pessoa percebe que não consegue movimentar o braço associado com uma dor intensa e deformidade local. Nessa situação deve-se tentar imobilizar o braço acometido numa posição ao lado do corpo com um tipóia improvisada e procurar um pronto-socorro imediatamente para ser feita a redução da luxação com manobras específicas (colocar o ombro no lugar!). É necessário também a realização de radiografias para verificar se o ombro foi corretamente reduzido e também porque às vezes podem ocorrer fraturas associadas. Em alguns casos o ombro pode deslocar-se parcialmente (chamamos de subluxação) e nesse caso geralmente ele volta para o lugar de forma fácil e muitas vezes espontaneamente. Após a luxação ser devidamente colocada no lugar, o ombro deve ser imobilizada com uma tipóia, sendo recomendado aplicação intermitente de bolsa de gelo e uso de medicação analgésica e anti-inflamatória. O paciente deve permanecer com a tipóia por um período determinado pelo médico e realizar exames de imagem para avaliar a gravidade da lesão ligamentar e possíveis lesões associadas (tendinosa, óssea, etc..). Após um período determinado deve-se iniciar o tratamento de fisioterapia para ganho de movimento e fortalecimento, mas no entanto em alguns casos o tratamento cirúrgico pode ser necessário.
Principalmente em pacientes jovens e que realizam atividades de alta demanda com o membro superior (esportes ou trabalho) é comum esse ombro poder voltar a sair do lugar com mais facilidade, evoluindo para um quadro chamado de luxação recidivante. Isso ocorre devido a lesão de um ligamento no ombro chamado de Labrum que não cicatriza corretamente e torna o ombro instável em determinados movimentos. Em alguns casos além da lesão ligamentar podem ocorrer também lesões ósseas associadas, o que pode tornar o ombro ainda mais instável. Para o tratamento de um quadro de luxação recidivante é necessário a realização de exames de imagem (ressonância magnética e/ou tomografia) associado com o exame clínico do ombro para definir a melhor conduta terapêutica. Geralmente nesses casos o tratamento cirúrgico é indicado, podendo ser realizada por vídeoartroscopia ou aberta, sendo a técnica escolhida determinada por diversos fatores, como gravidade da lesão, presença de lesões ósseas e atividade do paciente.